sexta-feira, 26 de março de 2010

O olhar do educador

Inclusão Social

Síndrome de Down

A Importância da Adaptação na Educação Infantil

ADAPTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

UM ELO ENTRE A CRIANÇA, A FAMÍLIA E A ESCOLA.


RESUMO: O presente artigo trata a questão do processo de adaptação e socialização da criança na instituição escolar infantil, sendo este um período de mudança e renovação na vida da criança, do professor e da família. Busca entender este momento como um processo que envolve uma rede de relações que implica a escola, seus professores e os pais das crianças, fazendo-se necessário que se definam suas funções nessa passagem. Mostra também uma experiência comprovada através de um projeto de adaptação, trabalhado no Centro de Educação Infantil Eusébio Justino de Camargo, com crianças de 04 anos de idade.


INTRODUÇÃO

O processo de adaptação foi, ao longo da história da educação infantil, muitas vezes encarado pelos profissionais como sendo um período de tempo e espaço determinados pela própria escola e tinha como objetivo fazer as crianças pararem de chorar. Imaginar que o sucesso de um processo de adaptação se resume à ter ausência de choro é banalizar uma situação que não termina em si mesma. Os sintomas que as crianças apresentam como doenças, regressões, alterações de comportamento, etc., estão aí para comprovar que elas não falam que as coisas não vão bem somente chorando. (BORGES, 2002: 32)

Considerando a importância do período de adaptação da criança à escola, sobretudo a criança pequena que freqüenta a escola pela primeira vez, ou aquela que terá um novo nível de escolaridade, o professor deve ser facilitador neste processo, de forma lúdica, atrativa, segura, prazerosa, dando início ao processo de ensino-aprendizagem.

Segundo DAVINI (1999:45): A adaptação é todo um grande período, que abrange desde as entrevistas e visitas preliminares dos pais às escolas, bem como os primeiros dias e o primeiro ano de escolarização da criança.

As crianças, que estão indo para a escola pela primeira vez, sofrem de ansiedade da separação. Elas sentem medo de que os pais não voltem para buscá-las e fantasiam o abandono. É importante que os pais lhes demonstrem interesse pela experiência que elas estão vivendo que as encorajem, reforçando-lhes a auto-estima, diminuindo-lhes a ansiedade, mostrando-lhe aspectos entusiasmantes da escola como: conhecer novos amiguinhos, poder brincar com eles, etc. e tranqüilizando-os quanto ao amor que sentem por elas, quanto à proximidade que manterão com a escola e com sua professora e quanto a estarem lá, para buscá-los no horário de saída.

A intensidade com que cada um vai experimentar, ou a forma como vai atravessar esse período, vai depender dos aspectos particulares de cada personalidade participante do processo e, também, da dinâmica familiar. Um fato a ser admitido é que essa separação é algo inevitável na vida de cada um de nós e, ainda que seja um processo doloroso, costuma trazer crescimento para todos os envolvidos. É importante que os pais vejam a situação não como "um mal necessário", mas como algo bastante positivo e enriquecedor no desenvolvimento de seu filho.



ADAPTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O processo de adaptação da criança à escola é um período muito delicado, pois envolve toda a comunidade escolar, ou seja, os pais, professores e demais funcionários da instituição na qual a criança está inserida. A separação afeta as crianças. Afeta os pais. Faz brotar sentimentos nos professores. O início da vida escolar pode ser uma ocasião excitante ou também uma ocasião agradável. Junto com aqueles que realmente estão encantados por estarem iniciando sua vida escolar, existem freqüentemente outras crianças chorando ou pais tensos e nervosos. (BALABAN, 1988: 24)
É importante lembrar que a separação é um processo que gera sentimentos, precisando ser entendidos, discutidos e superados gradativamente.


A função da família na adaptação

Para a criança é difícil o fato de ter que se separar dos pais, de ficar desprovida do convívio familiar ao qual já estava habituada, mesmo que por algumas horas apenas, para passar a freqüentar um novo espaço, a lidar com novos desafios.

Tudo isso acaba por provocar a ansiedade, o medo, à insegurança. A forma pela qual muitas crianças manifestam os seus medos é através do choro, e isso é considerado normal por professores e estudiosos na área da Educação Infantil. Nesse momento a ajuda dos pais é fundamental, é importante que ao ver o choro do filho não o leve de volta para casa, pois agindo dessa maneira irá prolongar ainda mais o processo de adaptação, outro aspecto importante também é vir buscá-lo na escola no horário combinado.

BALABAN (1988) orienta que antes do início das aulas, sejam organizadas reuniões coletivas e individuais com os pais, para a escola expor aos mesmos a sua proposta pedagógica, os seus objetivos, explicando-lhes como se dá esse processo de adaptação, enfatizando que esse momento merece uma atenção especial.

Fica possibilitado nesse momento o esclarecimento de dúvidas, pois serão plantadas sementes nesse encontro para o estabelecimento de uma relação de confiança, afetividade e amizade entre escola e família.

É importante salientar que já existiram casos de pais que esqueceram o filho na escola e que este fato poderá criar um trauma irreparável na vida escolar da criança.


A função do professor na adaptação

Quanto ao professor, este deve estar proporcionando um ambiente agradável e acolhedor com atividades lúdicas e prazerosas as quais supram o processo de separação vivido pela criança, e que estimule a sua individualidade e socialização, como músicas e danças, jogos e brincadeiras, histórias dentre outras, dessa forma o professor irá conquistar a confiança da criança e conseqüentemente facilitará o processo de adaptação e socialização da mesma, principalmente em se tratando da pré-escola.

O professor nesse processo aparece como mediador principal no contexto da adaptação à vida escolar. Assim como as crianças e os pais, nesse momento, também passa pelo processo de adaptação, pois a cada ano que se inicia novas experiências, novas crianças, novos pais serão conhecidos. As expectativas são muitas: como serão as novas crianças? Serei bem aceita por elas? Será que elas confiarão em mim? Ademais, a rotina de sala de aula e muitas vezes da própria escola são modificadas diante das peculiaridades encontradas no processo de adaptação.

Enfim, o professor é o principal mediador e tem que atender as expectativas dos pais, ganhar a confiança das crianças e de seus familiares e ainda, conduzir esse processo, além de trabalhar seus próprios sentimentos. Está sendo posto o tempo todo à prova e é necessário sempre ampliar e capacitar os seus conhecimentos.


EXPERIÊNCIA COM PROJETO


Experiência de adaptação comprovada

Tendo em vista às considerações apontadas acima, desenvolvemos no CEI Eusébio Justino de Camargo o projeto “Pequeno Ser” que trata do processo de adaptação e socialização da criança na pré-escola, projeto este que foi desenvolvido com crianças na faixa etária de 04 anos.

O objetivo principal deste projeto foi o de favorecer um ambiente rico em estímulos, onde a criança poderá conhecer e viver novas experiências, expressando seus pensamentos, sentimentos e emoções livremente, bem como, proporcionar, além de um clima de afetividade e confiança mútua entre os alunos, pais e os colaboradores da escola, o desenvolvimento psicomotor das crianças, através de um ambiente lúdico e prazeroso.

Para alcançar os objetivos propostos, trabalhamos com as seguintes estratégias: apresentação das dependências da escola, bem como de seus colaboradores e suas respectivas funções, atividades que proporcionaram o desenvolvimento das diversas formas de linguagem como cantar, dançar, imitar, balbuciar, desenhar, pintar, dentre outras, atividades que auxiliam no desenvolvimento psicomotor como engatinhar, arrastar, correr, rolar, pular, rasgar, amassar, subir, descer, andar em linha reta, empurrar e atividades que instiguem a imaginação e a criatividade: faz-de-conta, reconto de histórias e brincadeiras livres.


Apresentação da escola

A apresentação das dependências da escola aconteceu de forma natural, através dos momentos de alimentação e de execução de atividades, ou seja, na "sala de aula", nos banheiros, no lanche da manhã e da tarde, na brinquedoteca, no pátio, no contato com os funcionários e demais alunos da Escola. O vínculo de confiança entre pais e professores foi estabelecido através da constante comunicação dos fatos ocorridos, tanto em sala de aula como em casa.


Linguagem

"A linguagem oral tem um impacto surpreendente no desenvolvimento cerebral de uma criança, o número de palavras que uma criança escuta cada dia é o único e mais importante fato para predizer sua futura inteligência, o êxito escolar e a competência social" (SANCHEZ, 2006). A comunicação foi explorada em todas as atividades propostas, ou seja, a todo o momento as professoras incentivaram a fala das crianças e conversaram com elas.

Como atividades desenvolvidas que incentivaram as diversas formas de linguagem apresentamos:

• Roda de música;
• Dançar ao som de CD's;
• Imitação;
• Momento de leitura;
• Roda de conversa;
• Momento da higiene;
• Chamada "Quem veio à escola hoje";
• Como está o tempo?
• Que dia é hoje?
• Brincadeiras dirigidas.


Psicomotricidade

No desenvolvimento total da criança a estimulação através do movimento é essencial. Segundo SANCHES (2006) "a psicomotricidade ou a manipulação, o uso e o manuseio de objetos são necessários para se ter todas as habilidades, formando parte das aprendizagens naturais da criança, que lhe servirão de base para sua maturidade, preparando-a para escrever, ler e falar corretamente". Sendo assim, atividades que estimulem a psicomotricidade nessa faixa etária são de extrema importância. Dentro desse contexto, apresentamos como atividades que foram desenvolvidas:

• Bolinhas de crepom;
• Dança das cadeiras;
• Pega-pega (correr, parar);
• Serra - serrador;
• Rasgar papel;
• Pular;
• Rolar;
• Espreguiçar.


Imaginação e criatividade

Criatividade e imaginação estão muito relacionadas com a curiosidade, portanto responder aos porquês da criança e deixá-la explorar sua curiosidade natural são atitudes essenciais. Para tanto, apresentamos as seguintes atividades:

• Brincadeira livre;
• Brinquedos de encaixe;
• Dramatização;
• Leituras;
• Brincadeiras de casinha;
• Mímica;
• DVD.


Conclusão

Pode-se concluir que a adaptação é uma situação de muito estresse tanto para os pais, como para as crianças e de certa forma para os professores. A decisão de colocar o filho na escola ou creche tem que ser muito bem pensada. Os pais têm que estar muito seguros desta atitude. Eles devem estar prontos, pois terão que se manter firmes, não deverão em hipótese alguma se arrepender e voltar atrás, pois esta atitude resultará em danos tremendos à criança.

Toda situação nova, tanto para as crianças como para os adultos é uma posição incômoda, pois tira o indivíduo da sua zona de conforto. Enfrentar o desconhecido é sempre uma condição estressante independente da idade.

No que diz respeito à experiência realizada durante o desenvolvimento do projeto “Pequeno Ser” buscou-se fazer com que o momento de adaptação e socialização fosse de descontração e alegria, e para tal, foram realizadas várias atividades: brincadeira livre pela sala, brincadeira com vários jogos (montar, encaixar, quebra-cabeça, dentre outros), jogo de bola, manuseio de livros, idas ao parque, brincadeiras de roda, brinquedos de areia, cantos, dança, DVD, além disso, trabalhamos todas as datas comemorativas relevantes referentes ao período em que se desenvolveu o projeto.

Todas as atividades tiveram uma resposta positiva da turma, embora algumas crianças tenham dificuldade de se concentrar em uma atividade, dispersando-se com facilidade.

Enfim, pode-se concluir que o grupo adaptou-se facilmente ao ambiente escolar, uma vez que as crianças desta turma nunca tinham freqüentado outra unidade escolar.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AROEIRA, Maria Luisa Campos. Projetos para a educação infantil. Belo Horizonte: Dimensão, 2004.

A NOVA, pré-escola. 2.ed. Curitiba; Bolsa Nacional do livro, 2004

BALABAN, Nancy. O início da vida escolar: da separação à independência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006.

BORGES, M. F. S. T. e SOUZA, R. C. de (org.) A práxis na formação de educadores de educação infantil. Rio de Janeiro: DP & A, 2002.

BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, MEC/SEF, 1998. vol. I, vol. II.

DAVINI, Juliana; FREIRE, Madalena (Org). Adaptação: pais, educadores e crianças enfrentando mudanças. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1999. (Série Cadernos de Reflexão).

RAPOPORT, Andréa. Adaptação de bebês à creche. Porto Alegre: Mediação, 2005.



Luciani Gallo Machado Barreto
Neide da Silva2
Solange dos Santos Melo3

O DESENVOLVIMENTO HUMANO NA TEORIA DE PIAGET

Apresentação


O estudo do desenvolvimento do ser humano constitui uma área do conhecimento da Psicologia cujas proposições nucleares concentram-se no esforço de compreender o homem em todos os seus aspectos, englobando fases desde o nascimento até o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade. Tal esforço, conforme mostra a linha evolutiva da Psicologia, tem culminado na elaboração de várias teorias que procuram reconstituir, a partir de diferentes metodologias e pontos de vistas, as condições de produção da representação do mundo e de suas vinculações com as visões de mundo e de homem dominantes em cada momento histórico da sociedade.

Dentre essas teorias, a de Jean Piaget (1896-1980), que é a referência deste nosso trabalho, não foge à regra, na medida em que ela busca, como as demais, compreender o desenvolvimento do ser humano. No entanto, ela se destaca de outras pelo seu caráter inovador quando introduz uma 'terceira visão' representada pela linha interacionista que constitui uma tentativa de integrar as posições dicotômicas de duas tendências teóricas que permeiam a Psicologia em geral - o materialismo mecanicista e o idealismo - ambas marcadas pelo antagonismo inconciliável de seus postulados que separam de forma estanque o físico e o psíquico.

Um outro ponto importante a ser considerado, segundo estudiosos, é o de que o modelo piagetiano prima pelo rigor científico de sua produção, ampla e consistente ao longo de 70 anos, que trouxe contribuições práticas importantes, principalmente, ao campo da Educação - muito embora, curiosamente aliás, a intenção de Piaget não tenha propriamente incluído a idéia de formular uma teoria específica de aprendizagem (La Taille, 1992; Rappaport, 1981; Furtado et. al.,1999; Coll, 1992; etc.).

O propósito do nosso estudo, portanto, é tecer algumas considerações referidas ao eixo principal em torno do qual giram as concepções do método psicogenético de Piaget, o qual, segundo Coll e Gillièron (1987:30), tem como objetivo "compreender como o sujeito se constitui enquanto sujeito cognitivo, elaborador de conhecimentos válidos", conforme procuraremos discutir na seqüência deste trabalho.



 A visão interacionista de Piaget: a relação de interdependência entre o homem e o objeto do conhecimento


Introduzindo uma terceira visão teórica representada pela linha interacionista, as idéias de Piaget contrapõem-se, conforme mencionamos mais acima, às visões de duas correntes antagônicas e inconciliáveis que permeiam a Psicologia em geral: o objetivismo e o subjetivismo. Ambas as correntes são derivadas de duas grandes vertentes da Filosofia (o idealismo e o materialismo mecanicista) que, por sua vez, são herdadas do dualismo radical de Descartes que propôs a separação estanque entre corpo e alma, id est, entre físico e psíquico. Assim sendo, a Psicologia objetivista, privilegia o dado externo, afirmando que todo conhecimento provém da experiência; e a Psicologia subjetivista, em contraste, calcada no substrato psíquico, entende que todo conhecimento é anterior à experiência, reconhecendo, portanto, a primazia do sujeito sobre o objeto (Freitas, 2000:63).

Considerando insuficientes essas duas posições para explicar o processo evolutivo da filogenia humana, Piaget formula o conceito de epigênese, argumentando que "o conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas" (Piaget, 1976 apud Freitas 2000:64). Quer dizer, o processo evolutivo da filogenia humana tem uma origem biológica que é ativada pela ação e interação do organismo com o meio ambiente - físico e social - que o rodeia (Coll, 1992; La Taille, 1992, 2003; Freitas, 2000; etc.), significando entender com isso que as formas primitivas da mente, biologicamente constituídas, são reorganizadas pela psique socializada, ou seja, existe uma relação de interdependência entre o sujeito conhecedor e o objeto a conhecer.

Esse processo, por sua vez, se efetua através de um mecanismo auto-regulatório que consiste no processo de equilíbração progressiva do organismo com o meio em que o indivíduo está inserido, como procuraremos expor em seguida.



 O processo de equilibração: a marcha do organismo em busca do pensamento lógico


Pode-se dizer que o "sujeito epistêmico" protagoniza o papel central do modelo piagetiano, pois a grande preocupação da teoria é desvendar os mecanismos processuais do pensamento do homem, desde o início da sua vida até a idade adulta. Nesse sentido, a compreensão dos mecanismos de constituição do conhecimento, na concepção de Piaget, equivale à compreensão dos mecanismos envolvidos na formação do pensamento lógico, matemático. Como lembra La Taille (1992:17), "(...) a lógica representa para Piaget a forma final do equilíbrio das ações. Ela é 'um sistema de operações, isto é, de ações que se tornaram reversíveis e passíveis de serem compostas entre si'".

Precipuamente, portanto, no método psicogenético, o 'status' da lógica matemática perfaz o enigma básico a ser desvendado. O maior problema, nesse sentido, concentra-se na busca de respostas pertinentes para uma questão fulcral: "Como os homens constróem o conhecimento?" (La Taille: vídeo). Imbricam-se nessa questão, naturalmente, outras indagações afins, quer sejam: como é que a lógica passa do nível elementar para o nível superior? Como se dá o processo de elaboração das idéias? Como a elaboração do conhecimento influencia a adaptação à realidade? Etc.

Procurando soluções para esse problema central, Piaget sustenta que a gênese do conhecimento está no próprio sujeito, ou seja, o pensamento lógico não é inato ou tampouco externo ao organismo mas é fundamentalmente construído na interação homem-objeto. Quer dizer, o desenvolvimento da filogenia humana se dá através de um mecanismo auto-regulatório que tem como base um 'kit' de condições biológicas (inatas portanto), que é ativado pela ação e interação do organismo com o meio ambiente - físico e social (Rappaport, op.cit.). Id est, tanto a experiência sensorial quanto o raciocínio são fundantes do processo de constituição da inteligência, ou do pensamento lógico do homem.

Está implícito nessa ótica de Piaget que o homem é possuidor de uma estrutura biológica que o possibilita desenvolver o mental, no entanto, esse fato per se não assegura o desencadeamento de fatores que propiciarão o seu desenvolvimento, haja vista que este só acontecerá a partir da interação do sujeito com o objeto a conhecer. Por sua vez, a relação com o objeto, embora essencial, da mesma forma também não é uma condição suficiente ao desenvolvimento cognitivo humano, uma vez que para tanto é preciso, ainda, o exercício do raciocínio. Por assim dizer, a elaboração do pensamento lógico demanda um processo interno de reflexão. Tais aspectos deixam à mostra que, ao tentar descrever a origem da constituição do pensamento lógico, Piaget focaliza o processo interno dessa construção.

Simplificando ao máximo, o desenvolvimento humano, no modelo piagetiano, é explicado segundo o pressuposto de que existe uma conjuntura de relações interdependentes entre o sujeito conhecedor e o objeto a conhecer. Esses fatores que são complementares envolvem mecanismos bastante complexos e intrincados que englobam o entrelaçamento de fatores que são complementares, tais como: o processo de maturação do organismo, a experiência com objetos, a vivência social e, sobretudo, a equilibração do organismo ao meio.

O conceito de equilibração torna-se especialmente marcante na teoria de Piaget pois ele representa o fundamento que explica todo o processo do desenvolvimento humano. Trata-se de um fenômeno que tem, em sua essência, um caráter universal, já que é de igual ocorrência para todos os indivíduos da espécie humana mas que pode sofrer variações em função de conteúdos culturais do meio em que o indivíduo está inserido. Nessa linha de raciocínio, o trabalho de Piaget leva em conta a atuação de 2 elementos básicos ao desenvolvimento humano: os fatores invariantes e os fatores variantes.

(a) Os fatores invariantes: Piaget postula que, ao nascer, o indivíduo recebe como herança uma série de estruturas biológicas - sensoriais e neurológicas - que permanecem constantes ao longo da sua vida. São essas estruturas biológicas que irão predispor o surgimento de certas estruturas mentais. Em vista disso, na linha piagetiana, considera-se que o indivíduo carrega consigo duas marcas inatas que são a tendência natural à organização e à adaptação, significando entender, portanto, que, em última instância, o 'motor' do comportamento do homem é inerente ao ser.

(b) Os fatores variantes: são representados pelo conceito de esquema que constitui a unidade básica de pensamento e ação estrutural do modelo piagetiano, sendo um elemento que se tranforma no processo de interação com o meio, visando à adaptação do indivíduo ao real que o circunda. Com isso, a teoria psicogenética deixa à mostra que a inteligência não é herdada, mas sim que ela é construída no processo interativo entre o homem e o meio ambiente (físico e social) em que ele estiver inserido.

Em síntese, pode-se dizer que, para Piaget, o equilíbrio é o norte que o organismo almeja mas que paradoxalmente nunca alcança (La Taille, op.cit.), haja vista que no processo de interação podem ocorrer desajustes do meio ambiente que rompem com o estado de equilíbrio do organismo, eliciando esforços para que a adaptação se restabeleça. Essa busca do organismo por novas formas de adaptação envolvem dois mecanismos que apesar de distintos são indissociáveis e que se complementam: a assimilação e a acomodação.

(a) A assimilação consiste na tentativa do indivíduo em solucionar uma determinada situação a partir da estrutura cognitiva que ele possui naquele momento específico da sua existência. Representa um processo contínuo na medida em que o indivíduo está em constante atividade de interpretação da realidade que o rodeia e, consequentemente, tendo que se adaptar a ela. Como o processo de assimilação representa sempre uma tentativa de integração de aspectos experienciais aos esquemas previamente estruturados, ao entrar em contato com o objeto do conhecimento o indivíduo busca retirar dele as informações que lhe interessam deixando outras que não lhe são tão importantes (La Taille, vídeo), visando sempre a restabelecer a equilibração do organismo.

(b) A acomodação, por sua vez, consiste na capacidade de modificação da estrutura mental antiga para dar conta de dominar um novo objeto do conhecimento. Quer dizer, a acomodação representa "o momento da ação do objeto sobre o sujeito" (Freitas, op.cit.:65) emergindo, portanto, como o elemento complementar das interações sujeito-objeto. Em síntese, toda experiência é assimilada a uma estrutura de idéias já existentes (esquemas) podendo provocar uma transformação nesses esquemas, ou seja, gerando um processo de acomodação. Como observa Rappaport (1981:56),



" [...] os processos de assimilação e acomodação são complementares e acham-se presentes durante toda a vida do indivíduo e permitem um estado de adaptação intelectual (...) É muito difícil, se não impossível, imaginar uma situação em que possa ocorrer assimilação sem acomodação, pois dificilmente um objeto é igual a outro já conhecido, ou uma situação é exatamente igual a outra".

Vê-se nessa idéia de "equilibração" de Piaget a marca da sua formação como Biólogo que o levou a traçar um paralelo entre a evolução biológica da espécie e as construções cognitivas. Tal processo pode ser representado pelo seguinte quadro:

ambiente
è
desequilíbrio
è
adaptação
è
equilibração majorante

í î

assimilação
acomodação





Dessa perspectiva, o processo de equilibração pode ser definido como um mecanismo de organização de estruturas cognitivas em um sistema coerente que visa a levar o indivíduo a construção de uma forma de adaptação à realidade. Haja vista que o "objeto nunca se deixa compreender totalmente" (La Taille, op.cit.), o conceito de equilibração sugere algo móvel e dinâmico, na medida em que a constituição do conhecimento coloca o indivíduo frente a conflitos cognitivos constantes que movimentam o organismo no sentido de resolvê-los. Em última instância, a concepção do desenvolvimento humano, na linha piagetiana, deixa ver que é no contato com o mundo que a matéria bruta do conhecimento é 'arrecadada', pois que é no processo de construções sucessivas resultantes da relação sujeito-objeto que o indivíduo vai formar o pensamento lógico.

É bom considerar, ainda, que, na medida em que toda experiência leva em graus diferentes a um processo de assimilação e acomodação, trata-se de entender que o mundo das idéias, da cognição, é um mundo inferencial. Para avançar no desenvolvimento é preciso que o ambiente promova condições para transformações cognitivas, id est, é necessário que se estabeleça um conflito cognitivo que demande um esforço do indivíduo para superá-lo a fim de que o equilíbrio do organismo seja restabelecido, e assim sucessivamente.

No entanto, esse processo de transformação vai depender sempre de como o indivíduo vai elaborar e assimilar as suas interações com o meio, isso porque a visada conquista da equilibração do organismo reflete as elaborações possibilitadas pelos níveis de desenvolvimento cognitivo que o organismo detém nos diversos estágios da sua vida. A esse respeito, para Piaget, os modos de relacionamento com a realidade são divididos em 4 períodos, como destacaremos na próxima seção deste trabalho.



 Os estágios do desenvolvimento humano


Piaget considera 4 períodos no processo evolutivo da espécie humana que são caracterizados "por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor" no decorrer das diversas faixas etárias ao longo do seu processo de desenvolvimento (Furtado, op.cit.). São eles:

· 1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos)

· 2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos)

· 3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)

· 4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante)

Cada uma dessas fases é caracterizada por formas diferentes de organização mental que possibilitam as diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a realidade que o rodeia (Coll e Gillièron, 1987). De uma forma geral, todos os indivíduos vivenciam essas 4 fases na mesma seqüência, porém o início e o término de cada uma delas pode sofrer variações em função das características da estrutura biológica de cada indivíduo e da riqueza (ou não) dos estímulos proporcionados pelo meio ambiente em que ele estiver inserido. Por isso mesmo é que "a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida", conforme lembra Furtado (op.cit.). Abordaremos, a seguir, sem entrar em uma descrição detalhada, as principais características de cada um desses períodos.

(a) Período Sensório-motor (0 a 2 anos): segundo La Taille (2003), Piaget usa a expressão "a passagem do caos ao cosmo" para traduzir o que o estudo sobre a construção do real descreve e explica. De acordo com a tese piagetiana, "a criança nasce em um universo para ela caótico, habitado por objetos evanescentes (que desapareceriam uma vez fora do campo da percepção), com tempo e espaço subjetivamente sentidos, e causalidade reduzida ao poder das ações, em uma forma de onipotência" (id ibid). No recém nascido, portanto, as funções mentais limitam-se ao exercício dos aparelhos reflexos inatos. Assim sendo, o universo que circunda a criança é conquistado mediante a percepção e os movimentos (como a sucção, o movimento dos olhos, por exemplo).

Progressivamente, a criança vai aperfeiçoando tais movimentos reflexos e adquirindo habilidades e chega ao final do período sensório-motor já se concebendo dentro de um cosmo "com objetos, tempo, espaço, causalidade objetivados e solidários, entre os quais situa a si mesma como um objeto específico, agente e paciente dos eventos que nele ocorrem" (id ibid).

(b) Período pré-operatório (2 a 7 anos): para Piaget, o que marca a passagem do período sensório-motor para o pré-operatório é o aparecimento da função simbólica ou semiótica, ou seja, é a emergência da linguagem. Nessa concepção, a inteligência é anterior à emergência da linguagem e por isso mesmo "não se pode atribuir à linguagem a origem da lógica, que constitui o núcleo do pensamento racional" (Coll e Gillièron, op.cit.). Na linha piagetiana, desse modo, a linguagem é considerada como uma condição necessária mas não suficiente ao desenvolvimento, pois existe um trabalho de reorganização da ação cognitiva que não é dado pela linguagem, conforme alerta La Taille (1992). Em uma palavra, isso implica entender que o desenvolvimento da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência.

Todavia, conforme demonstram as pesquisas psicogenéticas (La Taille, op.cit.; Furtado, op.cit., etc.), a emergência da linguagem acarreta modificações importantes em aspectos cognitivos, afetivos e sociais da criança, uma vez que ela possibilita as interações interindividuais e fornece, principalmente, a capacidade de trabalhar com representações para atribuir significados à realidade. Tanto é assim, que a aceleração do alcance do pensamento neste estágio do desenvolvimento, é atribuída, em grande parte, às possibilidades de contatos interindividuais fornecidos pela linguagem.

Contudo, embora o alcance do pensamento apresente transformações importantes, ele caracteriza-se, ainda, pelo egocentrismo, uma vez que a criança não concebe uma realidade da qual não faça parte, devido à ausência de esquemas conceituais e da lógica. Para citar um exemplo pessoal relacionado à questão, lembro-me muito bem que me chamava à atenção o fato de, nessa faixa etária, o meu filho dizer coisas do tipo "o meu carro do meu pai", sugerindo, portanto, o egocentrismo característico desta fase do desenvolvimento. Assim, neste estágio, embora a criança apresente a capacidade de atuar de forma lógica e coerente (em função da aquisição de esquemas sensoriais-motores na fase anterior) ela apresentará, paradoxalmente, um entendimento da realidade desequilibrado (em função da ausência de esquemas conceituais), conforme salienta Rappaport (op.cit.).

(c) Período das operações concretas (7 a 11, 12 anos): neste período o egocentrismo intelectual e social (incapacidade de se colocar no ponto de vista de outros) que caracteriza a fase anterior dá lugar à emergência da capacidade da criança de estabelecer relações e coordenar pontos de vista diferentes (próprios e de outrem ) e de integrá-los de modo lógico e coerente (Rappaport, op.cit.). Um outro aspecto importante neste estágio refere-se ao aparecimento da capacidade da criança de interiorizar as ações, ou seja, ela começa a realizar operações mentalmente e não mais apenas através de ações físicas típicas da inteligência sensório-motor (se lhe perguntarem, por exemplo, qual é a vareta maior, entre várias, ela será capaz de responder acertadamente comparando-as mediante a ação mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a ação física).

Contudo, embora a criança consiga raciocinar de forma coerente, tanto os esquemas conceituais como as ações executadas mentalmente se referem, nesta fase, a objetos ou situações passíveis de serem manipuladas ou imaginadas de forma concreta. Além disso, conforme pontua La Taille (1992:17) se no período pré-operatório a criança ainda não havia adquirido a capacidade de reversibilidade, i.e., "a capacidade de pensar simultaneamente o estado inicial e o estado final de alguma transformação efetuada sobre os objetos (por exemplo, a ausência de conservação da quantidade quando se transvaza o conteúdo de um copo A para outro B, de diâmetro menor)", tal reversibilidade será construída ao longo dos estágios operatório concreto e formal.

(d) Período das operações formais (12 anos em diante): nesta fase a criança, ampliando as capacidades conquistadas na fase anterior, já consegue raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela é capaz de formar esquemas conceituais abstratos e através deles executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal. Com isso, conforme aponta Rappaport (op.cit.:74) a criança adquire "capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais e contrói os seus próprios (adquirindo, portanto, autonomia)".

De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o indivíduo adquire a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta. Isso não quer dizer que ocorra uma estagnação das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na adolescência, como enfatiza Rappaport (op.cit.:63), "esta será a forma predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos tanto em extensão como em profundidade, mas não na aquisição de novos modos de funcionamento mental".

Cabe-nos problematizar as considerações anteriores de Rappaport, a partir da seguinte reflexão: resultados de pesquisas* têm indicado que adultos "pouco-letrados/escolarizados" apresentam modo de funcionamento cognitivo "balizado pelas informações provenientes de dados perceptuais, do contexto concreto e da experiência pessoal" (Oliveira, 2001a:148). De acordo com os pressupostos da teoria de Piaget, tais adultos estariam, portanto, no estágio operatório-concreto, ou seja, não teriam alcançado, ainda, o estágio final do desenvolvimento que caracteriza o funcionamento do adulto (lógico-formal). Como é que tais adultos (operatório-concreto) poderiam, ainda, adquirir condições de ampliar e aprofundar conhecimentos (lógico-formal) se não lhes é reservada, de acordo com a respectiva teoria, a capacidade de desenvolver "novos modos de funcionamento mental"? - aliás, de acordo com a teoria, não dependeria do desenvolvimento da estrutura cognitiva a capacidade de desenvolver o pensamento descontextualizado?

Bem, retomando a nossa discussão, vale ressaltar, ainda, que, para Piaget, existe um desenvolvimento da moral que ocorre por etapas, de acordo com os estágios do desenvolvimento humano. Para Piaget (1977 apud La Taille 1992:21), "toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por estas regras". Isso porque Piaget entende que nos jogos coletivos as relações interindividuais são regidas por normas que, apesar de herdadas culturalmente, podem ser modificadas consensualmente entre os jogadores, sendo que o dever de 'respeitá-las' implica a moral por envolver questões de justiça e honestidade.

Assim sendo, Piaget argumenta que o desenvolvimento da moral abrange 3 fases: (a) anomia (crianças até 5 anos), em que a moral não se coloca, ou seja, as regras são seguidas, porém o indivíduo ainda não está mobilizado pelas relações bem x mal e sim pelo sentido de hábito, de dever; (b) heteronomia (crianças até 9, 10 anos de idade), em que a moral é = a autoridade, ou seja, as regras não correpondem a um acordo mútuo firmado entre os jogadores, mas sim como algo imposto pela tradição e, portanto, imutável; (c) autonomia, corresponde ao último estágio do desenvolvimento da moral, em que há a legitimação das regras e a criança pensa a moral pela reciprocidade, quer seja o respeito a regras é entendido como decorrente de acordos mútuos entre os jogadores, sendo que cada um deles consegue conceber a si próprio como possível 'legislador' em regime de cooperação entre todos os membros do grupo.

Para Piaget, a própria moral pressupõe inteligência, haja vista que as relações entre moral x inteligência têm a mesma lógica atribuída às relações inteligência x linguagem. Quer dizer, a inteligência é uma condição necessária, porém não suficiente ao desenvolvimento da moral. Nesse sentido, a moralidade implica pensar o racional, em 3 dimensões: a) regras: que são formulações verbais concretas, explícitas (como os 10 Mandamentos, por exemplo); b) princípios: que representam o espírito das regras (amai-vos uns aos outros, por exemplo); c) valores: que dão respostas aos deveres e aos sentidos da vida, permitindo entender de onde são derivados os princípios das regras a serem seguidas.

Assim sendo, as relações interindividuais que são regidas por regras envolvem, por sua vez, relações de coação - que corresponde à noção de dever; e de cooperação - que pressupõe a noção de articulação de operações de dois ou mais sujeitos, envolvendo não apenas a noção de 'dever' mas a de 'querer' fazer. Vemos, portanto, que uma das peculiaridades do modelo piagetiano consiste em que o papel das relações interindividuais no processo evolutivo do homem é focalizado sob a perspectiva da ética (La Taille, 1992). Isso implica entender que "o desenvolvimento cognitivo é condição necessária ao pleno exercício da cooperação, mas não condição suficiente, pois uma postura ética deverá completar o quadro" (idem p. 21).



As conseqüências do modelo piagetiano para a ação pedagógica


Como já foi mencionado na apresentação deste trabalho, a teoria psicogenética de Piaget não tinha como objetivo principal propor uma teoria de aprendizagem. A esse respeito, Coll (1992:172) faz a seguinte observação: "ao que se sabe, ele [Piaget] nunca participou diretamente nem coordenou uma pesquisa com objetivos pedagógicos". Não obstante esse fato, de forma contraditória aos interesses previstos, portanto, o modelo piagetiano, curiosamente, veio a se tornar uma das mais importantes diretrizes no campo da aprendizagem escolar, por exemplo, nos USA, na Europa e no Brasil, inclusive.

De acordo com Coll (op.cit.) as tentativas de aplicação da teoria genética no campo da aprendizagem são numerosas e variadas, no entanto os resultados práticos obtidos com tais aplicações não podem ser considerados tão frutíferos. Uma das razões da difícil penetração da teoria genética no âmbito da escola deve-se, principalmente, segundo o autor, "ao difícil entendimento do seu conteúdo conceitual como pelos método de análise formalizante que utiliza e pelo estilo às vezes 'hermético' que caracteriza as publicações de Piaget" (idem p. 174). Coll (op.cit.) ressalta, também, que a aplicação educacional da teoria genética tem como fatores complicadores, entre outros:

a) as dificuldades de ordem técnica, metodológicas e teóricas no uso de provas operatórias como instrumento de diagnóstico psicopedagógico, exigindo um alto grau de especialização e de prudência profissional, a fim de se evitar os riscos de sérios erros; 

b) a predominância no "como" ensinar coloca o objetivo do "o quê" ensinar em segundo plano, contrapondo-se, dessa forma, ao caráter fundamental de transmissão do saber acumulado culturalmente que é uma função da instituição escolar, por ser esta de caráter preeminentemente político-metodológico e não técnico como tradicionalmente se procurou incutir nas idéias da sociedade; 

c) a parte social da escola fica prejudicada uma vez que o raciocínio por trás da argumentação de que a criança vai atingir o estágio operatório secundariza a noção do desenvolvimento do pensamento crítico; 

d) a idéia básica do construtivismo postulando que a atividade de organização e planificação da aquisição de conhecimentos estão à cargo do aluno acaba por não dar conta de explicar o caráter da intervenção por parte do professor; 

e) a idéia de que o indivíduo apropria os conteúdos em conformidade com o desenvolvimento das suas estruturas cognitivas estabelece o desafio da descoberta do "grau ótimo de desequilíbrio", ou seja, o objeto a conhecer não deve estar nem além nem aquém da capacidade do aprendiz conhecedor.

Por outro lado, como contribuições contundentes da teoria psicogenética podem ser citados, por exemplo: 

a) a possibilidade de estabelecer objetivos educacionais uma vez que a teoria fornece parâmetros importantes sobre o 'processo de pensamento da criança' relacionados aos estádios do desenvolvimento; 

b) em oposição às visões de teorias behavioristas que consideravam o erro como interferências negativas no processo de aprendizagem, dentro da concepção cognitivista da teoria psicogenética, os erros passam a ser entendidos como estratégias usadas pelo aluno na sua tentativa de aprendizagem de novos conhecimentos (PCN, 1998); 

c) uma outra contribuição importante do enfoque psicogenético foi lançar luz à questão dos diferentes estilos individuais de aprendizagem; (PCN, 1998); entre outros.

Em resumo, conforme aponta Coll (1992), as relações entre teoria psicogenética x educação, apesar dos complicadores decorrentes da "dicotomia entre os aspectos estruturais e os aspectos funcionais da explicação genética" (idem, p. 192) e da tendência dos projetos privilegiarem, em grande parte, um reducionismo psicologizante em detrimento ao social (aliás, motivo de caloroso debate entre acadêmicos*), pode-se considerar que a teoria psicogenética trouxe contribuições importantes ao campo da aprendizagem escolar.



 Considerações finais


A referência deste nosso estudo foi a teoria de Piaget cujas proposições nucleares dão conta de que a compreensão do desenvolvimento humano equivale à compreensão de como se dá o processo de constituição do pensamento lógico-formal, matemático. Tal processo, que é explicado segundo o pressuposto de que existe uma conjuntura de relações interdependentes entre o sujeito conhecedor e o objeto a conhecer, envolve mecanismos complexos e intrincados que englobam aspectos que se entrelaçam e se complementam, tais como: o processo de maturação do organismo, a experiência com objetos, a vivência social e, sobretudo, a equilibração do organismo ao meio.

Em face às discussões apresentadas no decorrer do trabalho, cremos ser lícito concluir que as idéias de Piaget representam um salto qualitativo na compreensão do desenvolvimento humano, na medida em que é evidenciada uma tentativa de integração entre o sujeito e o mundo que o circunda. Paradoxalmente, contudo - no que pese a rejeição de Piaget pelo antagonismo das tendências objetivista e subjetivista - o papel do meio no funcionamento do indivíduo é relegado a um plano secundário, uma vez que permanece, ainda, a predominância do indivíduo em detrimento das influências que o meio exerce na construção do seu conhecimento.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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* Doutoranda em Lingüística Aplicada/IEL

* Ribeiro (2001, 2002); Oliveira ( 2001B); Luria (2001)

* Ver Becker (1994) e Silva (1993,1994)

Márcia Regina Terra*

mterra@estadao.com.br

As Fases dos Desenvolvimento Infantil e suas características.

Fases difíceis no desenvolvimento infantil
Se você olha para seu filho e pensa: “quando bebezinho, ele era tão fofinho que eu tinha vontade de comê-lo. Hoje, eu me pergunto, porque eu não comi?”, é hora de entender porque certas etapas do desenvolvimento infantil são mais difíceis.
Se o filho está apresentando comportamentos que desafiam a paciência dos pais, pela freqüência e insistência com que ocorrem, não é de admirar-se que muitas vezes estes quase percam o controle e fiquem ansiosos para que esta fase seja substituída por períodos mais tranqüilos.
Nestas fases, na maior parte das vezes, as sugestões não são aceitas. Se os pais querem ir embora, a criança quer ficar. Se eles dizem que está frio, ela insiste em não se agasalhar. Além disso, a criança se considera o centro do universo: não há nada mais importante e urgente do que as suas necessidades, idéias e pensamentos. Contrariá-la significa a certeza de chuvas e trovoadas.
Nestes momentos os pais estão sendo colocados à prova para estabelecer de forma justa e equilibrada a permissão para a conquista de uma necessária independência, sem descuidar-se de impor alguns limites imprescindíveis. Mas conciliar esta relação e fazer com que ela seja aceita pelo filho é uma tarefa que em certos momentos é difícil e que exige muita paciência e negociação.
Estas fases se manifestam de forma mais intensa em certos momentos porque estes são períodos de desequilíbrio no processo de desenvolvimento, durante os quais muitas características estão alterando-se rapidamente e a assimilação destas mudanças são difíceis. Elas são típicas da criança em por volta dos dois anos de idade e no início da adolescência.
Descobrir-se com novas habilidades, saber exatamente o que fazer com elas e até onde pode ir com segurança, são desafios a serem enfrentados pela criança e pelo adolescente. Os padrões antigos de comportamento já não funcionam mais, entretanto, os novos ainda não foram definitivamente consolidados.
Tanto a criança de dois anos como o jovem adolescente estão na busca de mais independência, procurando caminhos para estabelecer suas próprias identidades. Quando os pais se conscientizam da necessidade do filho conquistar sua vida própria, e que para isto alguns períodos difíceis de transição são necessários, terão mais tranqüilidade para enfrentarem os desafios. E todos, pais e filhos, estarão prontos para vivenciar novas e mais tranqüilas etapas.
> Início > Crescimento e desenvolvimento
confundem características transitórias de determinados estágios do desenvolvimento dos filhos como definitivas.
O período da infância é subdividido em fases ou estágios, cada um deles com características próprias, durante os quais a criança vê o mundo e age de modo diferente, interage com as pessoas e o ambiente de forma diferente e está preocupada com questões diferentes.

Diversas linhas e teorias definem as fases ou estágios do desenvolvimento infantil, desde as que analisam o desenvolvimento neuro-psico-motor até aquelas clássicas desenvolvidas por autores como Freud, Piaget, entre outros.

Em linhas gerais, os estágios mantêm uma seqüência estável, nenhum é omitido, cada um é uma sequência do anterior e base para o seguinte, sendo que, apesar de cada fase ter uma idade aproximada durante a qual deve ocorrer, cada criança tem o seu próprio ritmo. Portanto, mesmo considerando que a sequência é sempre a mesma (todos passam por todas as fases), há variações individuais que dependem de características pessoais, estímulos, etc.

Conhecer as características de cada fase ajuda a identificar o que é normal e os desvios da normalidade. Assim o hábito do bebê levar tudo o que estiver ao seu alcance à boca, as crises de brabeza, a contestação dos limites, a insistência em responder todas as perguntas com um “não”, vivenciar fantasias, manipular os órgão genitais, manifestar uma curiosidade insaciável evidenciada pelo insistente “por quê?”, gostar de fazer coleções, entre tantas outras, são características transitórias e serão abandonadas na fase seguinte.

Um exemplo da transitoriedade destas características e da confusão entre a normalidade e o distúrbio é a agitação da criança em torno de dois anos de idade. De forma equivocada esta hiperatividade, normal e saudável, é às vezes classificada como distúrbio e algumas destas crianças até recebem tratamento!

Portanto, aqui o velho ditado “não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe” é uma realidade. As fases difíceis irão passar com o tempo, mas ao mesmo tempo a criança cresce, cria asas e voa...

As principais fases da linguagem
Complementando o texto sobre as “Primeiras palavras”, aqui está um breve resumo sobre como a criança evolui em relação ao desenvolvimento de sua linguagem no primeiro ano de vida até ampliar seu vocabulário e formar frases.
Estas fases da linguagem podem ser resumidas assim:
- Primeiro trimestre (do nascimento até completar três meses de idade)
Linguagem pré-verbal: olha para a face das demais pessoas, vocalização (balbucio) e sorriso.
- Segundo trimestre (dos três meses até completar seis meses de idade)
Vocalização mais ampla e associada a expressões faciais e corporais.
- Terceiro trimestre (dos seis meses até completar nove meses de idade)
A linguagem se enriquece com sons silábicos cada vez mais expressivos e ricos (repetição de sílabas: ta-tá-ta ou ba-bá-bá ou ne-nê-nê, por exemplo, o que é denominado lalação); expressa-se com linguagem corporal e gestual.
- Quarto trimestre (dos nove meses até completar doze meses de idade)
Começa a linguagem simbólica, onde as sílabas ou palavras curtas estão vinculadas às pessoas ou objetos (ma-ma, pa-pa), pode manifestar a chamada “palavra-frase”, onde uma única palavra ou sílaba tem o significado de uma frase inteira (como “bola” significando “me dá a bola” ou “vamos jogar bola”, etc.). Neste período a linguagem compreensiva é muito mais ampla do que a expressiva (não fala quase nada, mas entende “tudo”).
- Segundo ano de vida
Após completar um ano de idade, há uma ampla variação no ritmo em que cada criança vai desenvolver sua linguagem, como abordado no texto Primeiras palavras. A maioria começa a pronunciar palavras e algumas a formar frases curtas de duas ou três palavras.

Desenvolvimento da criança: entre os três e os cinco anos
Esta é uma idade durante a qual os pais têm um pouco mais de tranqüilidade em relação aos filhos, pois estes estão vivenciando uma fase mais estável, de mais independência e autocuidado. Já não é necessário um controle tão rigoroso, pois a criança tem um comportamento mais adequado, aceita compromissos e tolera períodos cada vez maiores longe dos pais.
Entretanto, em muitas crianças são freqüentes avanços e retrocessos nos comportamentos (ora agindo como crianças menores e ora com mais maturidade).
Nesta idade a criança tem um acentuado desenvolvimento nas áreas de linguagem, coordenação e aprendizagem. Desenvolve a capacidade para usar símbolos em pensamentos e ações e consegue lidar melhor com conceitos como idade, espaço, tempo e moralidade. Entretanto, não separa ainda o real do irreal e grande parte do seu pensamento é egocêntrico (é incapaz de considerar o ponto de vista de outras pessos).
A criança demonstra uma evolução significativa na interação com outras crianças e adultos e aprende funções consideradas adequadas ao papel sexual, bem como comportamentos socialmente aceitáveis. Assimila também o conceito de certo e errado, bom e ruim, embora ainda tenha dificuldade para entender as justificativas para estes conceitos.
É freqüente a criança desta idade assumir o sentido literal das palavras e frases e gostar de contar histórias da família sem inibição ou “censura” (veja o exemplo em O vaso roubado).
Esta é a fase típica dos “por quês”, pois a criança frequentemente demonstra curiosidade e interesse por tudo o que ocorre a sua volta.
O desenvolvimento rápido da linguagem e a dificuldade para coordenar pensamentos e verbalização provocam uma gagueira normal, que irá diminuir e cessar com o passar do tempo (leia Crianças com gagueira). É normal também nesta idade a criança ter uma fala com troca de letras (“b” e “p”, por exemplo) e sílabas (“mánica” em lugar de máquina).
As brincadeiras agora são mais organizadas e cooperativas entre as crianças (brincam juntas, cooperam e interagem umas com as outras). A fantasia e o “faz de conta” estão muito presentes o que faz a criança muitas vezes confundir as brincadeiras com a realidade. Os amigos imaginários também são freqüentes nesta idade.
Também nesta idade a criança demonstra medos relacionados à fantasia e à imaginação (do escuro, de monstros e de fantasmas, entre outros).
No final deste período a criança está pronta para ingressar no sistema formal de ensino e iniciar o processo de alfabetização.

Crianças entre 2 e 3 anos frequentemente apresentam disfluência (gaguejam), mas isto geralmente é normal e transitório.

Muitas crianças entre dois e quatro anos de idade apresentam episódios de gagueira ou disfluência (repetição de sílabas ou palavras). Geralmente estes episódios são transitórios e duram poucos meses, ocorrendo em conseqüência de uma combinação de vários fatores que interagem entre si durante o desenvolvimento da fala. Um destes fatores é a presença de um raciocino mental muito mais veloz do que a capacidade de articular palavras e organizar frases nesta idade.

O rápido fluxo de pensamentos, geralmente associado à ansiedade para contar rapidamente algo importante ou que impressionou muito, também contribui para que a criança apresente alguma dificuldade para produzir um ritmo regular e suave em sua fala. Esta disfluência pode aumentar quando a criança está ansiosa, cansada ou doente e quando está tentando dominar muitas palavras novas.

Os pais podem ficar tranqüilos quanto à excelente evolução deste distúrbio transitório da linguagem e devem ser orientados a não interferirem ou chamarem a atenção para o fato. Sua contribuição estará em proporcionarem como exemplo uma linguagem simples e com fluxo calmo, assim como terem paciência e tempo disponíveis para permitirem à criança organizar a coordenação de seus pensamentos com a fala. Pais ansiosos quanto ao fato do filho gaguejar pode acentuar uma característica que irá desaparecer naturalmente.

Uma minoria das crianças que apresentam disfluência nesta idade, cerca de 1 ou 2%, necessitará de tratamento especializado. Estes poucos casos, que persistem por mais tempo do que o habitual, podem estar associados a uma história familiar de gagueira, sugerindo uma predisposição hereditária.

Uma característica que pode estar relacionada com a tendência da gagueira tornar-se um problema persistente é a percepção pela criança da dificuldade para articular as palavras, gerando sinais de ansiedade como fazer caretas, ou bater o pé. Nestes casos, onde a criança tem consciência do problema e percebe que sua fala está sendo julgada como fora do padrão normal, ela pode ter sua auto-estima prejudicada.

A disfluência que persiste após os cinco anos de idade, está associada a outros distúrbios da linguagem ou quando a criança manifesta preocupação quanto ao fato de estar gaguejando necessita de avaliação e tratamento.

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Uma pesquisa publicada recentemente na revista Pediatrics (janeiro de 2009) realizada com 1619 crianças australianas com menos de 3 anos de idade mostrou um percentual de 8,5% de casos com gagueira confirmada. A idade média de início foi de 30 meses de idade. A maioria dos pais observou o início da gagueira quando a criança começou a unir três ou mais palavras numa frase. Um grande vocabulário da criança foi associado a maior incidência de gagueira na criança pequena.

Esta pesquisa reforça a necessidade de os pais e outros profissionais que cuidam de crianças estarem cientes de que o fato da criança começar a gaguejar antes dos 3 anos de idade é muito frequente (especialmente em crianças com amplo vocabulário), casual (não é uma característica constante na fala da criança) e desaparece com o tempo.